Entrevista maldosa com Regina Duarte à CNN expõe tentativa de livrar-se do "chapa-branquismo"

Repórter Daniel Adjuto entrevista a Secretária Nacional de Cultura, Regina Duarte, ao vivo, na CNN, dia 7 de maio





No final de semana do dia 3 de maio, o jornalista Daniel Adjuto, da CNN que trabalha em Brasília, compartilhou um voo entre São Paulo e a Capital Federal com a atriz Regina Duarte, Secretária Nacional de Cultura. No voo, entabularam uma conversa e Regina contou ao repórter que ela estaria indo de mala, cuia e um gato para ficar em Brasília. No meio de um caldeirão de boatos sobre sua demissão do Governo pelo Presidente Jair Bolsonaro, Regina fez questão de dizer que queria ficar mais tempo em Brasília, em vez da ponte-aérea com São Paulo. Educado e simpático, Adjuto conquistou a confiança da titular da Secult. Dias depois, na quinta-feira seguinte, Adjuto consegiu uma entrevista ao vivo e exclusiva com Regina. Com direito a duas poltronas e um cenário emoldurado com quadros do artista Rubem Valentim, Regina quis retribuir à simpatia de Adjuto de dias atrás. Era para ser uma conversa em que a Secretária Nacional de Cultura fizesse um relatório de seus quase 60 dias no cargo.


Ocorreu que deu tudo errado. Regina não tem o traquejo de entrevistas ao vivo que não sejam sobre o universo da teledramaturgia, mar que ela navegou com desenvoltura por mais de 50 anos. Atriz de primeiro time, Regina Duarte vem se posicionando no campo mais à direita do espectro político brasileiro. Foi assim ainda em 2002, quando ficou famosa sua frase "eu tenho medo", em relação à primeira eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência. 

Deu tudo errado porque o repórter Adjuto queria fazer uma entrevista "lacradora", buscando descolar a ideia de que a CNN - apenas há dois meses no ar no Brasil - seria uma emissora chapa-branca simpática ao Governo de Jair Bolsonaro. Queria dar uma espremida em Regina Duarte. Viu que ela não era lá essas coisas como entrevistada e cravou. Fez perguntas que saíram do script previamente combinado com a titular da Secult, inclusive entrando em temas polêmicos como a possível demissão da atriz do cargo. 

Foi tudo mais errado ainda porque, do estúdio, os âncoras Reinaldo Gottino e Daniela Lima chamaram um vídeo enviado pela atriz Maitê Proença, onde ela cobrou de Regina uma postura mais afirmativa para ajudar artistas que estão sem renda em função da pandemia. Regina recusou-se a ouvir o que tinha a dizer Maitê - aliás, um libelo enfadonho, panfletário e militante feito "taylor made" para agradar a parcela mais à esquerda da classe artística. 

Regina não queria falar de mortos, desdenhou o que houve no período dos governos militares entre 1964 e 1985 e disse que não gostaria de "carregar cadáveres nas costas". Encerrou a entrevista dizendo que não era aquilo que havia sido combinado. 

Por um lado, a CNN saiu-se bem com o episódio, mostrando que não seria assim... tipo... chapa branca. Pois emparedou uma atriz que está há pouco tempo na cadeira elétrica da cultura brasileira. A entrevista chegou a elevar a hashtag #cnnlixo bem pra cima nos trends Brasil por algum tempo. 

No entanto, a entrevista "lacradora" feita pelo jovem Adjuto (Eu usaria Daniel Sanders, que é o outro sobrenome dele. Adjuto é pacabá) trouxe à tona algumas informações importantes sobre a vinda da CNN para o Brasil. 

No Brasil, a CNN é uma franquia patrocinada pelo bilionário Rubens Menin, dono da construtora MRV e do Banco Inter. Ocorre que, nos Estados Unidos, a CNN é da AT&T, empresa de telecomunicações que busca ter uma presença maior no Brasil. Ainda hoje, a legislação brasileira sobre concessões de rádio e televisão limitam em 30% a participação de capital estrangeiro nas emissoras brasileiras. 

Contando que Bolsonaro possa ajudar na mudança da legislação, Rubens Menin teria tido um início de namoro, dando a entender que a CNN Brasil seria mais simpática ao Governo de Jair Bolsonaro. As coisas não deram tão certo assim. A CNN Brasil estreou dia 15 de março, com pompa, circunstância e coquetel em São Paulo. No dia seguinte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o Corona Vírus tornou-se uma pandemia. O bicho tomou conta de todos os continentes.  Aí a cobertura entrou numa espiral de loucura. Cada repórter e apresentador sendo cada vez mais crítico ao Governo de Jair Bolsonaro. Âncoras como Monalisa Perrone e comentaristas como Caio Junqueira e Basília Rodrigues não perdem a oportunidade de cutucar - negativamente - o Governo Federal. 

O colunista Maurício Stycer, do TV e Famosos do UOL, lembra matéria feita pelo jornalista da Revista Piauí, Fábio Victor. 


"Em parte graças ao lobby da família do presidente, a fusão já foi aprovada em duas instâncias de controle e regulação (Cade e Anatel), mas ainda depende de uma terceira aprovação (Ancine) e, finalmente, da alteração da lei pelo Congresso Nacional. Se Bolsonaro conseguir de fato mudar a lei, será um benefício inesquecível para a AT&T e a WarnerMedia - e, por extensão, à CNN de lá e daqui"

Para Stycer, ainda é difícil avaliar os impactos da pééééééssima repercussão nos ambientes governista da entrevista de Regina Duarte à CNN Brasil.





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