Mais um pouco de café. Agora com chocolate e uvas da Serra Gaúcha


O Vale dos Vinhedos continua lindo e interessante (Foto: Prefeitura de Bento Gonçalves)


O episódio envolvendo a contratação de safristas em Bento Gonçalves, revelado no final de fevereiro, e sua consequente série de manchas às marcas envolvidas, dá a chance para que as estruturas de marketing e governança de empresas e instituições sejam atualizadas e revigoradas. 

Não fica aqui nenhuma hipótese de julgamento sobre o que ocorreu com os trabalhadores contratados para a colheita da uva. Autoridades públicas e o setor privado já estão se ocupando disso.

Por aqui fica um ponto de reflexão sobre o que de bom pode decorrer do episódio para o futuro. A curto, médio e longo prazo.

Os reflexos da ação policial do final de fevereiro em Bento Gonçalves já são sentidos na "barriga no balcão" de diversos estabelecimentos que vendem vinho e suco de uva. Desde pequenos mercados de bairro até grandes hipermercados. Em vários deles, algumas marcas do Vale dos Vinhedos (lugar espetacular, onde está concentrada a maioria das vinícolas de Bento) estão sendo liquidadas. Vinhos e sucos pela metade do preço. Em alguns, pelo menos duas marcas foram retiradas das prateleiras. O que é um exagero, mas pode estar em linha com os reflexos das falas de muita gente indignada com o episódio que se manifesta nas multipossibilidades do universo digital.

Muita gente falando mal do vinho gaúcho hoje, consequência do episódio. 

Aí estão misturados política, inveja, ressentimentos, reserva de mercado, entre outros fatores.

Pois bem. O que dá para tirar de tudo que vem acontecendo no pós-episódio?

Marcas fantásticas e mundiais já sofreram com denúncias de irregularidades na contratação de mão-de-obra. Nike e diversas marcas de chocolates mundo a fora já passaram por essas dificuldades. E se reinventaram. Criaram programas de fiscalização próprios, incentivaram iniciativas locais, mecanizaram o que dava para mecanizar, valorizaram trabalhadores, entre outras iniciativas.

E o que é mais importante: anunciaram essas iniciativas aos quatro ventos. Tem dado certo. As pessoas continuam comprando produtos Nike e várias marcas de chocolate continuam muito bem, obrigado.

Exageros de alguns setores de consumidores à parte, não é mais possível ignorar que estamos num mundo conectado, líquido e rápido, muito rápido. Conceitos como governança, ética, transparência, inovação e sustentabilidade (além das letrinhas ASG,de Ambiental, Social e Governança) estão modificando as relações de consumo e escolhas.


Organizado em 1995, Vale dos Vinhedos criou valor à região

O Vale dos Vinhedos tem uma história que remonta a 1875, quando chegaram os primeiros imigrantes vindos do norte da Itália, unificada havia poucos anos. A produção artesanal de vinho se estabeleceu na região que hoje faz parte do município de Bento Gonçalves. Mais de cem anos depois, em 1995, foi criada a Aprovale, uma associação que uniu as vinícolas da região para valorizar o vinho produzido ali.

Desde então, uma série de iniciativas, como enoturismo, gastronomia, melhoria nos prédios da vinícolas e a certificação de indicação geográfica, fez com que o Vale dos Vinhedos se tornasse uma referência em produção de vinhos e um excepcional destino turístico.

O trabalho realizado pelas famílias produtoras de vinho da região nos últimos trinta anos agregou um valor incalculável para o Vale dos Vinhedos. A qualificação dos produtos, a conquista do mercado internacional e a atratividade turística para a região gerou milhares de empregos, oportunidades de negócio e uma projeção espetacular. Muita renda foi gerada a partir da união dos produtores locais. Tal geração de riqueza foi irradiando para toda a região da Serra Gaúcha, que hoje ostenta índices de desenvolvimento humano acima da média brasileira. 


Mais um pouco de café colombiano

Juan Valdez de 1963


Desde 1959 os produtores de café na Colômbia têm um elemento de marketing especial para ajudar na consolidação da marca do grão produzido no seu país. Atributos como qualidade, homogeneização, excelência, robustez, aroma... fazem parte de uma mística que têm um homem de chapéu de aba larga, uma manta no ombro, um vistoso bigode e que passeia pelas fazendas de café no lombo de um burrico. É juan Valdez, um personagem fictício que encarna o cafeicultor colombiano. O homem das montanhas, de uma família de pequenos cafeicutores que passam a cultura de geração em geração.

E assim, com a figura do Juan Valdez, o café colombiano vai ganhando mercado e se consolidando. 


Juan Valdez de 2023


Nas prateleiras dos mercados ao redor do mundo, o café colombiano é beeeeeem mais caro do que o brasileiro. Em um hipermercado de Porto Alegre, por exemplo, o quilo do colombiano chea a ser quase QUINZE vezes mais caro do que a média do preço cobrado pelas populares marcas brasileiras. 

Juan Valdez é a "tangibilidade" de todo o esforço de marketing que começou em 1927 com a criação da Federação dos Cefeteros de Colombia. Há tempos, eles lidam com os altos e baixos que a marca "Colômbia" tem tido no imaginário mundial ao longo dos últimos cem anos. 


Café Juan Valdez nas gôndolas de mercado em Porto Alegre

Não deixe de ler o livro "Comunicação Empresarial e Gestão de Marcas", organizado por Wilson da Costa Bueno, editado pela Manole, de Barueri (SP) em 2018

Em espanhol, vale a leitura de "Juan Valdez, la estrategia detras de la marca", de Luis Fernando Samper, Maria del Pilar Fernandez, Mauricio Reina e Gabriel Silva, editado pela Ediciones B, de Bogotá (Colômbia) em 2007

Visite também www.juanvaldezcafe.com

Juntei café colombiano e uva brasileira para dar um toque de reflexão sobre as capacidades de melhoria de um produto ou de uma ideia quando os elementos de marketing são entendidos. E aplicados. (Miguelito Medeiros, consultor de Marketing, Comunicação & Política)

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