Greve começou de um jeito e terminou de outro(Foto: Estadão Conteúdo) |
A greve dos caminhoneiros da última semana de maio deixou
algumas lições para os brasileiros. Mesmo em ano de Copa do Mundo e eleições
para a Presidência da República, grande parte da opinião pública discutiu o
tamanho do estado, impostos, a qualidade de nossos políticos e como o Brasil é
refém do modal rodoviário de transportes. Nos quase onze dias de paralisação,
ou locaute, como o Governo Federal começou a chamar o movimento, o Brasil
parou. Sem caminhões, a gasolina não chegou nos postos, a ração não chegou nos
aviários e nas granjas de criação de porcos e os medicamentos não chegaram aos
hospitais. Foi o “Dia em que a Terra Parou”, parafraseando Raul Seixas. Aulas,
shows, eventos e programações de final de ano familiares foram cancelados. Para
trazer às coisas à normalidade brasileira, o Governo Federal precisou subsidiar
parte do óleo diesel para os caminhoneiros. Ganharam R$ 0,46 em cada litro de
óleo para voltarem ao trabalho.
A primeira lição que fica é que o Brasil tem caminhão
demais. As cargas são transportadas por distâncias absurdas, às vezes, passando
dos quatro mil quilômetros pelo mesmo caminhoneiro. Não há uma malha
ferroviária para desafogar o movimento, como existe em países desenvolvidos como
os Estados Unidos, e também por países que buscam o desenvolvimento, como a
Índia. Paramos no tempo em apostar tudo no modelo rodoviário. Há tempo, sim, de
mudar os marcos legais para que a opção ferroviária seja viável economicamente.
Assim, substituindo paulatinamente a dependência dos caminhões.
O Brasil é um país de gente nervosa, violenta e com pouco
instinto de solidariedade.
Somos um povo do cada um por si, mesmo que a
propaganda insista em dizer que somos legais. Os primeiros que ficam no “cada
um por si” são os caminhoneiros, tanto os autônomos quanto os grandes donos de
frotas de carretas. Eles fizeram a greve pedindo “diesel mais barato” e uma
tabela de frete mínimo (excluiu de vez a concorrência). Não pensaram na
gasolina nem no álcool. Queria diesel mais barato. Mesmo sabendo que o preço do
petróleo dobrou de valor em dois anos no mercado internacional. Petróleo é uma
commodity regulada pelo mercado internacional. Não dá para ir contra. É como
sair gritando no meio da tempestade de granizo que para parar de chover. Os
caminhoneiros não quiseram pagar a conta pela alta do seu maior insumo.
Na terceira parte, é bom destacar o papel nocivo das
boatarias e da disseminação de notícias falsas. O esporte nacional da fofoca
foi turbinado pela tecnologia do whatsapp. Estivemos à beira de uma guerra
civil nos arredores dos postos de combustível em função de notícias falsas.
No final, ficou claro que os caminhoneiros começaram o movimento de um jeito e a greve ou paralisação terminou de outro. Começaram a fazer um movimento que parecia ser ordeiro. Terminou em uma grande bagunça.
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