Saindo do mesmo jeito. Ou, quem sabe, pior

Nos primeiros dois meses da pandemia, este blog publicou que havia a crença, positiva, de que a humanidade sairia melhor desse período especial da história. Uma crença baseada em coisas práticas do cotidiano, como as compras por telefone ou por internet, as aulas on-line, as consultas médicas à distância, entre outras maravilhas tecnológicas que foram calibradas e aperfeiçoadas durante o isolamento social.

No entanto, a humanidade vai sair da pandemia como sendo ela mesma, a humanidade. Composta por seres humanos, com todos seus defeitos, idiossincrasias, ambições, medos e vaidades. Há uma semana, um entregador de gás de cozinha foi linchado até a morte em uma favela no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. O caminhão do entregador havia atropelado, sem nada de gravidade, uma menina que andava de bicicleta na rua. O irmão da menina, com várias passagens pela polícia, cumprindo medidas socio-educativas por homicício. O irmão é menor de 18 anos de idade e não estava preso. Estava em uma unidade da Fase e havia sido solto em função da epidemia. O irmão da menina foi o responsável pelo tiro de misericórdia ao entregador de gás, que morreu ali, no meio da rua, enquanto os moradores saqueavam os botijões de gás do caminhão. O motorista fugiu.

Em outro aspecto da pandemia, pelo menos 800 mil pessoas com renda média ou alta, funcionários públicos ou empresários retiram o auxílio-emergencial de R$ 600,00 destinados às pessoas que perderam totalmente suas fontes de renda. Geralmente gente que trabalha no mercado informal do dia a dia.

Dois exemplos para mostrar que a humanidade vai sair mal desse negócio todo de pandemia.

Há esperança? Há, sim. A humanidade é assim mesmo. Sai de uma crise com algumas melhorias, mas ressentimentos, sentimentos de vingança e outros quetais também surgem nas eras pós-crises e pós-guerras.

O Brasil, por exemplo. O país vai crescer muito nos próximos doze meses. Vai haver uma recuperação de empregos, de empresas e oportunidades de renda e negócios. Há uma demanda muito reprimida que vai ter que ser suprida nos próximos meses. Em diversos setores, da construção civil ao vestuário, da indústria de ração animal aos artigos de luxo. Há uma vontade muito grande de ir ao shopping, de ir a algum tipo de lugar onde se possa gastar e investir o dinheiro. 

A humanidade vai sair um pouco pior da pandemia. Nos primeiros meses, mas, depois, a coisa tende a se ajeitar. Daqui uns dez anos, talvez menos, a pandemia vai ser uma lembrança. O mundo vai continuar sendo o mesmo, com a mesma humanidade. Talvez aprendamos muito pouco com tudo isso que está acontecendo. 

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