De 2018 até o início deste ano de 2021, a busca por mais
lucratividade, rendimentos e valorização para o seu dinheiro fez muitos
brasileiros buscarem turbinar suas poupanças através do mercado de ações. Foi
uma enxurrada de ofertas de cursos para investir em ações, fundos, serviços de
corretoras, agenciamentos, consultorias e novos produtos. Ofertados por profissionais
autônomos e empresas de todos os tamanhos, estes produtos e serviços tiveram um
marketing bastante focado: era preciso conquistar o dinheiro daquele poupador
preocupado com o baixo rendimento da renda fixa em geral, e da caderneta de
poupança, de forma mais particular.
O marketing focado deu resultado. Milhares de brasileiros abriram
contas em corretoras de valores, tiraram dinheiro da poupança e compraram ações
e investiram em fundos de investimento.
Aí veio a pandemia no início de 2020.
Em março de 2020, as ações em todos os países sofreram
perdas significativas. Papéis de empresas aéreas, de serviços, de turismo, de
transportes, de petróleo tiveram suas cotações evaporadas. Claro, os valores
das ações tiveram alguma recuperação após a turbulência de março de abril de
2020. O segundo semestre do ano passado, com a perspectiva das vacinas e da
retomada da economia, registrou a melhora significativa dos preços das ações.
A propaganda, no Brasil e em diversos países com mercados de
capitais estruturados, foi ainda mais focada e fortalecida nos meses de
outubro, novembro e janeiro de 2021. Mais e mais gente, encantada com a perspectiva
de melhores ganhos, entrou de cabeça no mercado acionário.
E chega 2021 com todas as suas dúvidas sobre como vai ser o
mundo pós-covid. Algumas certezas, no entanto, chegam de maneira avassaladora.
A enorme liquidez mundial, provocada pelos governos que inundaram os mercados
com dinheiro, despertou o adormecido dragão da inflação. Em vários países, dos
Estados Unidos ao Brasil, da Inglaterra à Turquia. Todos países importantes vem
registrando picos inflacionários.
Voltando para o Brasil, a inflação fez com que o Banco
Central começasse a subir os juros da taxa básica da economia brasileira. E,
com isso, fica mais atrativo investir em renda fixa tradicional do que
continuar na renda variável. E agora, os investidores que foram tocados pela
propaganda que dizia que as ações eram uma maravilha, estão desesperados. O mercado
acionário é um excelente instrumento de preservação e valorização do capital.
Mas, ele exige conhecimento e uma dose de atualização para saber o que se passa
pelo mundo das ações.
A propaganda tem agora um problema de marketing.
Corretoras de todos os tamanhos, bancos e demais empresas e
profissionais que entraram no mercado precisam agora de um reposicionamento. Há muitos
clientes que estão se desencantando com a renda variável, perderam dinheiro e
ficaram sem paciência – situação justificável plenamente – por perderem
dinheiro. Muitos deles foram seduzidos por uma propaganda que dizia que as
ações eram a maravilha dourada no caminho para a independência financeira. Mas
não disse que era preciso ter conhecimento.
O desafio agora é buscar o cliente dos produtos de renda
variável que ficou “sem pai nem mãe” no meio da loucura que virou o mercado nos
últimos dois meses.
O que fazer? Talvez não apelar tanto para a ganância dos potenciais
clientes. Uma dose de transparência e dizer que o investimento em ações continua
sendo bom.
Mas é preciso ter conhecimento e buscar sempre uma atualização.
Quem sabe isso não seja uma bela alternativa para milhares
de poupadores que saíram bastante sapecados do sobe e desce maluco que tomou
conta do mercado de renda variável no Brasil?
Está aí um desafio para o profissional de marketing que atende
os fornecedores de produtos financeiros de produtos baseados em ações. (Miguelito Medeiros, consultor em marketing)
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