Nelson Proença foi um incentivador da mudança econômica do RS

Nelson Proença

No templo, o touro está sempre aguardando seu mestre, pronto para qualquer missão. A missão pode  estar ali, com Brahma, Vishnu e Shiva a postos. No templo em Bangalore, a estátua do Grande Touro foi esculpida em uma rocha há mais ou menos 700 anos. Os visitantes dão uma volta no touro e fazem uma pequena oração a Shiva. 

Eu, Proença, Susa Kakuta, Maria Luíza e nosso guia na Índia


Numa manhã chuvosa de junho de 2007, estávamos lá no templo, na cidade de Bangalore, na Índia. Nelson Proença, secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, e Susana Kakuta, presidente da Caixa RS, o banco de investimentos do Estado do Rio Grande do Sul. Acompanhava a pequena comitiva a esposa de Proença, Maria Luiza. Eu era o assessor de imprensa de Proença na secretaria. Na viagem, era assessor para tudo, incluindo fazer os detalhes de última hora de uma agenda que incluía visitas a diferentes empresas, universidades e campos de energia eólica na Índia.


Susana Kakuta e Nelson Proença visitando campos eólicos em Pune, Índia


Era a fase “governo estadual” da minha carreira de assessor de imprensa. Já trabalhava com Proença desde o tempo em que presidia o diretório gaúcho do PPS, o partido sucedâneo do Partido Comunista Brasileiro, atual Cidadania. Depois do governo estadual, Proença encerrou uma carreira de cinco mandatos como deputado federal. Voltara para a iniciativa privada, com abertura de um escritório de fusões e aquisições, a Guapo Capital.

Ao todo, trabalhei com ele uns oito anos, de forma mais direta, juntando a atividade partidária, a participação no governo de Yeda Crusius (2007-2010) e fazendo assessoria para a Guapo. Depois disso, Proença sempre foi o cara para quem eu ligava para buscar uma opinião sobre a política, tanto aqui no Rio Grande como em nível nacional. Um grande cara, sempre muito antenado em tudo o que acontecia.



Nelson Proença foi um prodígio. Grande negociador, na iniciativa privada vendeu de tudo. De frangos a computadores mainframe da IBM. O jeito com as pessoas e o poderoso networking empresarial o levaram para fazer uma ponte entre o governo federal, então capitaneado por José Sarney e a classe produtiva. Dessa ponte saíram diversos programa sociais nacionais, entre eles, o famoso ticket-leite. Um vale dado às famílias carentes que era trocado por leite em saquinho.

A abrangência do programa fez Proença ser agraciado com títulos de Cidadão Honorário em praticamente todos os estados brasileiros.

Em 1990, tornou-se deputado federal, reelegendo-se em 1994, 1998, 2002 e 2006.

Proença foi um grande incentivador na modernização econômica do Rio Grande do Sul. Como secretário do governo de Antônio Britto (1995-1998), o comerciante nato rodou o mundo em busca de investimentos para os pampas. De suas andanças, trouxe a Dell, a Ford e a GM. Além de ter participação decisiva na privatização da Companhia Riograndense de Telecomunicações, a CRT. Oito anos depois, no governo de Yeda, Proença foi peça fundamental no apoio político à venda de ações do Banrisul no mercado aberto e na atração de investimentos na área de energia elétrica renovável. 

Elegante, bem-humorado e sempre disposto a uma frase de efeito, Proença era um trotamundo. Não poupava esforços para viajar e encontrar executivos de empresas e integrantes de governos, onde quer que estivessem. Ia de Hannover, na Alemanha, para Nova Iorque quase sem bagagem e sem ligar muito para as diferenças de fuso horário. Não é brincadeira. Sair de um aeroporto, passar no hotel, dar uma ajeitada no visual e correr para reunião. Eram nesses encontros em que se apresentavam as potencialidades do Rio Grande do Sul e investidores ficavam encantados com a possibilidade de investir na economia gaúcha.

Com a governadora Yeda Crusius durante a Fenavinho, em Bento Gonçalves

Mesmo com todo o estilo cosmopolita, Proença estava também sempre disposto a correr municípios do interior gaúcho. Seja montando e fortalecendo o partido, seja ouvindo pedidos dos prefeitos. Sempre na estrada. 

Proença completaria 72 anos em agosto. Morreu após três meses de luta contra os efeitos da Covid-19. Seu organismo já estava debilitado devido a problemas decorrentes da amiloidose, uma doença rara que afeta, inclusive, os movimentos musculares. 

De sua passagem, fica a lembrança de um cara sempre à frente de seu tempo e um grande empreendedor. Para ele, nada era impossível de ser feito. Bastava achar o jeito e o momento certo.

Um grande cara que faz falta para a política gaúcha. Aprendi muito com ele. (Miguelito Medeiros, consultor de marketing, comunicação e política)

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