A Copa e o marketing da energia do Qatar

 



Navio gaseiro do Qatar (foto: Portos&Navios)


O governo do Qatar pode ter investido bem mais do que os declarados 220 bilhões de dólares para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2022. Há quem diga que a soma tenha chegado a US$ 300 bilhões. Dinheiro que vem da exploração do petróleo e do gás natural. 

Sediar a Copa do Mundo faz parte uma grande estratégia de marketing do reino do Qatar. Não é apenas a atração de turismo para o pequeno país. Há ainda o esforço de manter no ar uma das mais dispendiosas companhias aéreas (a Qatar Airways), mas também pela compra de ativos imobiliários em endereços caríssimos de diversas capitais europeias. Em Londres, na Inglaterra, o dinheiro catari é investido em hotéis, lojas chiques de departamentos e em prédios comerciais.

Tudo é um grande esforço de marketing. Que tem dado certo.

Apesar das críticas que o mundo ocidental desfere contra o jeito catari de governar (entram aí denúncias de maus-tratos contra mulheres, escravidão de trabalhadores indianos, perseguição a gays e um completo desprezo pelo meio ambiente), ele estão rompendo barreiras. 

E vendendo muito. 

Vendendo gás natural para os europeus, que aos poucos deixam de comprar o combustível russo.

Aos poucos, por fazer do marketing internacional uma política de estado - e de reino - que funciona, o Qatar vem ocupando espaços. E comprando apoios que se transformam em receita importante mais ali adiante.



Sobre os novos navios para escoar o gás catariano



Em maio, o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou um acordo para o Catar investir cerca de US$ 12 bilhões nos próximos cinco anos, em setores que vão de medicina e biologia à cibersegurança.

As autoridades do Catar cultivaram relações com os altos escalões do governo e do empresariado britânico. O emir do Catar, Tamim bin Hamad al Thani, foi um dos poucos líderes do Golfo a comparecer ao funeral da rainha Elizabeth 2ª em setembro.

E o atual rei Charles 3º aceitou em 2015 uma doação para sua fundação de caridade de mais de US$ 2,4 milhões — parte desse dinheiro teria sido entregue em espécie, dentro de sacolas, por um ex-líder político do Catar.

Ainda em 2019, as autoridades de energia do Qatar deram início a um ambicioso programa de construção de navios transportadores de gás natural liquefeito (GNL). A ideia original era a construção de 55 embarcações. Com a invasão da Ucrânia pelas forças russas, o programa está sendo revisto. 

O conflito no centro da Europa Oriental está fazendo com que os grandes países compradores do gás russo, como Inglaterra, França, Alemanha e Espanha troquem de fornecedor. Aí entra o gás do Qatar. Em vez dos 55 navios pensados lá em 2019, já se fala em, pelo menos, 100 novas embarcações destinadas ao transporte do gás.

O Qatar tem hoje 50 navios gaseiros. São os maiores do mundo da categoria. Com mudança de fornecedor pelos europeus, o Qatar poderá se consolidar na liderança como o maior exportador mundial de gás natural liquefeito. Passando de 77 milhões de toneladas por ano para mais de 110 mil mta já no final de 2023. (Miguelito Medeiros, com informações da BBC Brasil, G1 e Portos & Navios)

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