Série Harry e Meghan vale a pena para entender o processo de melhoria de imagem

 

Meghan Markle (BBC Brasil/Getty Images)



A princípio, não gostei da série Harry e Meghan, que está passando na Netflix. Em forma de documentário roteirizado de forma fofa para parecer de verdade, o trabalho é uma tentativa de limpar a barra do casal que optou por abandonar a Família Real inglesa. Por dois anos, fofocas de racismo, de bullying, invejas e traições estiveram nas capas dos jornais sensacionalistas britânicos. E isso incomodou muito a corte. Há quem diga que Meghan quis impor seu estilo na família - também chamada de "instituição" no documentário. E isto incomodou ainda mais.


A série-documentário é toda cheia de chavões, de lugares-comuns e recheada de imagens do dia a dia íntimo do casal. Casal que se conheceu bem rápido e, em seguida, já estava casado com toda pompa e circunstância de um casamento de um príncipe com uma plebeia. 


A impressão que se tem é que o documentário estava sendo preparado desde o dia em que Harry e Meghan se casaram. Assim como uma salvaguarda, um bote salva-vidas caso ocorresse algum problema na história de amor transatlântica dos dois (Meghan é nascida e criada nos EUA).


Não gostei de tanta apelação ao vitimismo, do tipo "os paparazzi não davam trégua", "a mesma busca por fotos e fofocas que matou a minha mãe (Diana) agora está aterrorizando minha esposa", Além, é claro, de uma tentativa abusada de culpar um suposto racismo para defenestrar Meghan. 


A busca por culpar um racismo inexistente chega a ser patética. Ainda mais agora, que o primeiro-ministro é filho de indianos. O homem-forte do governo britânico tem a pele bem mais morena que Meghan. E a esposa do primeiro-ministro, a também filha de indianos Akshata Murty, é bem mais preta que a duquesa de Sussex. Um casal britânico rico e poderoso. Ninguém está nem aí com a cor da pele deles. 


O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak com a esposa Akshata



Pesou contra Meghan, ainda, seu histórico familiar. Ela é filha de pais separados com um currículo de xingamentos públicos entre praticamente todos os integrantes, seus pais e seus meio-irmãos. Além, é claro, do fato de Meghan já ter sido casada com um produtor de televisão. Trevor Engelson foi seu marido por dois anos entre 2010 e 2012. 


Meghan foi defestrada da Família Real porque é chata, mesmo. Só por isso. 


Do ponto de vista do marketing e da melhoria das gestões de crise, a série é fenomenal. Mostra - com todos os pés atrás - que houve uma série de iniciativas para fazer com que Meghan se tornasse a pessoa mais importante do Reino Unido. Sim, mais importante, inclusive, do que a finada Rainha. Meghan e seu grupo buscam, ainda, criar uma imagem de que a atriz e ativista norte-americana que fisgou o príncipe ruivo é a salvação da Monarquia. Eles acreditam, de verdade, que Meghan seria um fator preponderante para modernizar a "instituição". 


Todo o trabalho de internet, com a identificação de quem falava bem ou falava mal do casal Harry e Meghan, além do corpo a corpo com jornalistas britânicos, tem sido intensificado para tornar a ex-atriz, agora Duquesa, mais palatável. A escolha das entrevistas, como a concedida a Oprah Winfrey, fez parte deste trabalho de melhoria da reputação.


Harry e Meghan dando entrevista à Oprah (Netflix)




E o Brasil com isso?


Pois, bem. A Inglaterra sempre foi importante para o Brasil. Foram eles que financiaram boa parte do comércio de escravos para as terras brasileira ainda no tempo da colônia. Foram os ingleses que financiaram a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808. Além disso, o dinheiro inglês ajudou o Brasil a se tornar independente de Portugal em 1822. Investidores ingleses também foram fundamentais para o financiamento da recente indústria nacional brasileira no final do século 19.


Também é importante destacar que boa parte dos jogadores da seleção brasileira de futebol ganham seu sustento brilhando nos gramados ingleses. Alisson, Thiago Silva, Casemiro, Richarlison, Fred, Bruno Guimarães, Paquetá, Ederson, Gabriel Jesus, Gabriel Martinelli e Antony são jogadores brasileiros que atuam em times ingleses. (Miguelito Medeiros, consultor de marketing)

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