Em El Savador, dólares e bitcoins são a base da moeda corrente no país |
Há horas que penso em escrever sobre essa bobagem sem tamanho que é a ideia de uma moeda comum na América do Sul. Ou América Latina inteira, não sei ao certo, pois quem propôs a tonteria não delimitou os países que abraçariam um "real latino", ou um "peso continental". A bobagem é tamanha e não tem nenhum fundamento histórico - que é uma base para uma integração monetária entre países. A América Latina nunca se integrou em seus 531 anos de história. Pelo contrário, o continente tem um histórico de desintegração século após século.
Os latino-americanos, especialmente os de fala hispânica, sempre quiseram tocar sua vida independentemente do vizinho. A história é de um desentendimento crônico e cíclico. Ainda nos dias de hoje é possível que duas ou três novas nações possam surgir do processo histórico de desintegração. Há um movimento latente no estado mexicano de Chiapas. Há também uma insatisfação na região de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com o poder central baseado no Altiplano. Estas duas situações podem, há quem diga que num futuro próximo, dar à luz mais dois países latino-americanos.
Por mais incrível que possa parecer, a verdadeira integração latino-americana que deu certo foi, acreditem, o Brasil. Poderia acontecer com a América Porguesa o que ocorreu com a América Espanhola: cada província ou vice-reinado se transformando em um país ao longo dos cinco séculos. No Brasil, de fala portuguesa, a integração ocorreu. Somos um país enorme com diferenças regionais, mas unidos pela língua. A pequena parte do Brasil que não falava português, a Província Cisplatina, foi-se e virou Uruguai. De resto, o Brasil é a integração que deu certo.
Pois, bem. E a moeda única?
Ora, em um cenário de desintegração história, é impossível estabelecer uma integração monetária, de dinheiro igual para gentes completamente diferentes. Não dá. O Euro não é exemplo. Economias importantes como Suíça, Suécia, Inglaterra, Polônia e República Tcheca não usam o Euro. A Turquia já quis muito adotar o Euro. Hoje já mais não é consenso no país euro-asiático a adoção da moeda europeia.
Aqui na América Latina é impossível.
A moeda comum aqui é o dólar. Sim, a moeda dos Estados Unidos é o fator que tem organizado a economia de muitos países. Panamá, El Salvador e Equador têm a economia dolarizada oficialmente. E estão tocando suas vidas normalmente já há bastante tempo. Ninguém, nestes três países, notou uma tal... falta de soberania por conta da adoção do padrão dólar.
Além dos três países acima, a moeda norte-americana já é corrente na Bolívia, no Paraguai, na Bolívia e no México. De maneira não-oficial, é claro. Mas todo o comércio destes países transa bem a conversão.
Agora, o que mais impressiona é que o país que abriga a maior população debaixo de uma ditadura de esquerda - a Venezuela - tenha adotado o dólar como salvação para sua economia. Mesmo sancionado pelos Estados Unidos, o sistema monetário venezuelano não-oficial, o das ruas das grandes cidades, foi incentivado pelo regime de Nicolás Maduro a partir de 2018. A ideia era tentar controlar a inflação galopante que corroeu o poder de compra do bolívar. O que veio a seguir foi além disso. A economia teve uma melhora por conta da previsibilidade do dólar.
Então. Chegamos aqui com algumas informações que dão conta de que o dólar, sim, vai ser a possível moeda de integração das Américas. O real brasileiro, aparece como uma terceira força, pois é bem aceito em diversos países, como Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Suriname e até, vejam bem, na Guiana Francesa.
Por essas e outras, do ponto de vista prático e do pragmatismo do comércio, é que a ideia de uma moeda de integração regional, que NÃO seja o dólar, vai sempre ser nada mais que uma tonteria. (Miguelito Medeiros, consultor de marketing, comunicação & política)
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