Milei perdeu o debate e ganhou a eleição

Milei e Massa no último debate antes das eleições (AFP)


Os argentinos elegeram um político outsider, polêmico, de direita e auto-intitulado liberal-libertário. A eleição do economista Javier Milei no dia 19 de novembro quebrou uma tradição republicana argentina de, pelo menos, uns 70 anos de predominância do peronismo populista na Casa Rosada. 

Esta conversa aqui não é sobre política, sobre esquerda e direita. Nestas linhas, vamos provocar o debate sobre algo que estaria consolidado entre os profissionais que se dedicam ao marketing político e à preparação dos discursos dos políticos, candidatos ou já no exercício do cargo. Há muito tempo, há a crença de quem arrasa nos debates têm condições de alavancar a candidatura e pavimentar o caminho à vitória. 

Muitas campanhas políticas, logo após o debate, correm para os canais de comunicação do candidato para dizer, com muito berro, que ele ganhou o debate. Fulano, fulana, foi melhor no debate. "Não deu margem para o oponente". "Amassou". "Deixou nas cordas". "Lacrou". E por aí vai. A vitória no debate é o ativo a ser trabalhado nos dias seguintes ao ringue televisivo. E que gera diversos recortes para as redes sociais, para as plataformas de videos curtos e tal.

Até Milei ganhar as eleições na Argentina, essa era a verdade.

A eleição do economista de cabelo estrategicamente desalinhado mudou essa percepção. E a realidade.

Milei não foi exatamente bem no último debate com o governista Sergio Massa. Milei titubeou, ficou visivelmente atrapalhado em suas anotações, além de se deixar levar pela tática do oponente que propôs um jogo de respostas "sim ou não".

No dia seguinte, a grande maioria dos especialistas em marketing político, jornalistas, publicitários e políticos experimentados cravou que Milei perdera o debate. E que Massa tivera uma catapultada no sprint final da eleição. 










Uma semana depois, as eleições mostraram que Massa pode ter sido o vencedor do debate. Mas os argentinos votaram no "el loco" que teria sido amassado no ringue do debate.

O publicitário Pablo Nobel, um dos coordenadores da comunicação da campanha de Milei, disse que os argentinos votaram com empatia. Em várias entrevistas, Nobel lembrou que - surpreendentemente - o eleitorado do país vizinho escolheu o cara que apanhou, qu
e estava ali para desafiar o sistema, mesmo nervoso em botar e tirar os óculos para responder o "por si o por no" proposto por Massa. 

Javier Milei já fez história por ser o primeiro liberal libertário a ser eleito para liderar um país importante. E foram quase doze, 12, pontos percentuais à frente do segundo colocado.

A sua campanha também mostrou que quem ganha o debate, nem sempre ganha a eleição. (Miguelito Medeiros, consultor de Marketing, Comunicação & Política)


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