Volodymyr Zelensky (The NewStatesman) |
No final de fevereiro de 2022, tropas russas invadiram a vizinha Ucrânia. Começava a guerra que ainda não terminou e já matou quase 300 mil pessoas, entre soldados dos dois lados e civis ucranianos. Neste ano de guerra, uma figura emergiu no cenário mundial como liderança natural e carregada de vieses de marketing pessoal e institucional. Volodymyr Zelensky, um bacharel em Direito que nunca exerceu a profissão, tornou-se presidente e tomou posse em 2019. Nunca havia sido político. Era roteirista de cinema, ator e comediante. E foi como comediante que caiu nas graças do povo ucraniano ainda em 2017, quando interpretava um professor que havia se tornado... presidente da Ucrânia.
Zelenky subiu ao poder com um discurso de político outsider e contra o lado parlamentar mais simpático aos russos. O comediante ganhou os votos sendo anti-político e anti-Kremlin.
Apesar da pandemia, a vida ia relativamente calma na Ucrânia. Apesar de, no leste do país, desde 2014, os russos ocupassem a província da Criméia, com focos de resistência ucraniana. Mas era um conflito muito, muito regionalizado.
O teste de fogo aconteceu em fevereiro de 2022. Zelenky se viu na liderança de um país que estava sendo invadido pela potência nuclear russa. Pelo Exército Vermelho. Pelos mísseis. Pela artilharia.
Desde o início, o presidente ucraniano conseguiu ganhar as seguidas batalhas da comunicação. Fiz um texto aqui logo no começo da guerra.
Leia: Putin perdeu a guerra da informação
Nos primeiros bombardeios, potências ocidentais ofereceram uma evacuação segura do presidente da Ucrânia. Zelensky disse que precisava de armas, não de carona. Foi a primeira grande sacada de marketing usada pelo ex-ator.
Zelensky, é bom lembrar, é um presidente judeu, com um primeiro-ministro também de raízes judaicas. Mesmo assim, o ditador russo Putin insistia que a guerra era para "desnazificar" a Ucrânia.
Outro gol do ucraniano. "Como dizer desnazificar se a Ucrânia é governada por um judeu?"
Outros pontos positivos do marketing bem usados por Zelensky:
- sai às ruas, mesmo com o risco de um míssil cair na sua cabeça
- conversa com todos, buscando sempre um sorriso no rosto
- fala inglês bem
- mostra-se como se fosse um soldado no front, com um moleton verde-oliva e barba por fazer
- escolheu um lado: está fazendo de tudo para colocar seu país no mundo ocidental, via Otan e União Europeia
- é constante nas redes
- é motivador
- é um ótimo vendedor das suas ideias
Há um ano, tropas da Rússia invadiram a vizinha Ucrânia. Algo em torno de 120 mil soldados russos estavam mobilizados há semanas nas fronteiras entre os dois países. Mesmo com todas as evidências de uma invasão iminente, o presidente russo, Vladimir Putin, negava qualquer movimento de entrar no país vizinho pela força. No dia 24, no entanto, o pior aconteceu. Dezenas de mísseis foram disparados pelos russos contra diversas cidades ucranianas. Ao mesmo tempo, soldados a bordo de carros de combate rompiam a fronteira e ingressavam no território ucraniano. Sem nenhuma provocação por parte dos ucranianos, o governo russo justificou a invasão como uma operação especial para "desnazificar" o país. Uma completa bobagem. Uma pirueta retórica usada pelo ditador russo, que está no poder desde 1999, para tentar dar algum ar de legítimo ao ataque. Putin, no alto de sua soberba, acreditava que a sua guerra duraria dias. Ou semanas, quem sabe. No final, suas tropas conseguiriam ir até a capital ucraniana, Kiev, e derrubariam o governo. Errou feio.
Vladimir Putin perdeu a guerra pela comunicação já nos primeiros dias de combate. Ele deparou-se com a tenacidade, a habilidade de comunicação e uma capacidade enorme de liderar do presidente ucraniano. Vlodimir Zelensky tem sido um gigante à frente da defesa de seu país frente à infâmia da invasão perpetrada pelos russos. Zelensky, ex-comediante que elegeu-se presidente derrotando os políticos pró-russos na Ucrânia, tem se mostrado um líder espetacular. Como há muito não se via na história recente.
A Rússia é um país comunista fechado. Experimentou, por alguns anos após a queda da União Soviética, um lampejo de liberdade de expressão e jornalismo livre. Desde a primeira década deste século, no entanto, o governo russo tem se empenhado em controlar os fluxos de informação. Obrigou o fechamento de veículos de imprensa independentes, expulsou jornalistas estrangeiros e forçou o fechamento de escritórios de marcas globais do jornalismo. Desde 2018, pelo menos oito jornalistas russos foram encontrados mortos sem que a investigação sobre a causa dos falecimentos tivesse desfecho.
No campo de batalha da informação, a Ucrânia tem vencido a Rússia. Soldados ucranianos vão com celulares para o front. Registram tudo e colocam nas redes. Já os russos são proibidos de portarem seus aparelhos. Fica a informação filtradíssima pelo Kremlin. Que nunca é fidedigna. (Miguelito Medeiros, consultor de marketing, comunicação e política)
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