Enchente de maio de 2023 no Rio Grande (foto: Diego Vara) |
O mês de maio foi terrível para os gaúchos. Uso aqui terrível porque todos os adjetivos que possam ser empregados para qualificar a tragédia das águas já foram gastos pela repetição. Fiquemos com o terrível. Mês de maio terrível. Terrível enchente. Quase dois milhões de gaúchos foram impactados direta ou indiretamente. Quase 200 perderam a vida. Muitos perderam a casa, os negócios, o carro, o emprego, o faturamento, o ganha-pão do cotidiano. A tragédia afetou 427 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. Eu estou entre as estatísticas. Precisei sair às pressas do apartamento. Eu, a mulher e dois meninos. A disputa por um barco de resgate, caminhar na free-way, andar na caçamba de caminhão até ser resgatado pela família. Uma experiência ruim.
Em Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul, Lajeado, São Leopoldo e outras cidades, todos têm uma história para contar com a enchente como cenário.
O socorro às vítimas iniciou com os voluntários, a sociedade, as comunidades, grupos de amigos. Logo em seguida chegaram os reforços oficiais de outros estados. Bombeiros, polícias, profissionais da saúde, entre outros tantos profissionais, estiveram no Rio Grande do Sul ajudando. Cada um à sua maneira.
Muitos anônimos, sem nenhuma intenção de ser notado. Trabalhando pelo resgate de quem perdeu tudo para as águas. Sem buscar reconhecimento nem recompensa.
Tem sido muito bonito o trabalho dos voluntários na ajuda às vítimas da enchente.
Por outro lado, há um grupo que busca reconhecimento e repercussão de suas ações. Mesmo que mínimas, pequenas ações eram espetacularizadas, especialmente nas redes sociais.
A enchente e suas consequências ainda estão sendo matéria-prima para "conteúdos" de marketing eleitoral, marketing de celebridades e até mesmo publicidade pura e simples para lojas, supermercados, todo tipo de serviços.
Há um oportunismo, sim, de quem ajuda buscando a autopromoção, de quem busca votos neste ano eleitoral. Um oportunismo que divide opiniões. Tem gente que acha certo. Muitos acham um oportunismo sem noção de humanidade, solidariedade e outros valores afins.
Mas há um viés do marketing "da enchente". A forma como muitos empreendedores, desde os mais simples até grandes corporações, usaram a presença na mídia para mostrar empatia com o flagelo dos gaúchos chama a atenção. Grande parte das peças publicitárias traz o gancho da reconstrução, da busca pela resiliência intrínseca do gaúcho.
Eta povinho para mostrar resiliência, tchê! São anos de seca e alternados com umidade exagerada. Casos aqui e ali de deslizamentos de terra e as enchentes sempre presentes no horizonte do nosso clima. Pois, bem. As empresas estão apresentando seus anúncios chamam para a capacidade dos gaúchos de se reinventar, de fazer algo novo, de inovar aqui e ali. E isso parece estar fazendo efeito positivo. Por mais doloroso que seja ver o seu negócio debaixo de lama, muitos gaúchos adotaram o discurso da resiliência e da reconstrução. Grande empresas dão o exemplo e publicizam as ações de recomeço. E, aos poucos, restaurantes, pequenas lojas, fábricas e serviços vão sendo remontados. O marketing "da enchente", nesses casos, é motivador. (Miguelito Medeiros, Consultor de Marketing, Comunicação & Política)
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